Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus. (Marcos 1:16-20)
Todos os diretores de música, líderes e pastores que conheço por todo o Brasil possuem um sonho em comum: ter em suas equipes musicais instrumentistas e cantores iguais a Jesus, pessoas que refletem o maravilhoso caráter de Cristo em suas vidas. Creio que o amado leitor compartilha do mesmo sonho, mesmo que na dura realidade este sonho mais pareça utopia. Na verdade, estaríamos mentindo se afirmássemos que não gostaríamos de tocar, cantar ou dirigir o louvor congregacional ao lado de pessoas amáveis, humildes, sérias, compromissadas, sábias etc. Ou você gostaria de ter o Diabo como companheiro de ministério? É óbvio que não.
Lembro-me que desde adolescente sempre desejei tocar ao lado de discípulos de Jesus. Sempre quis ter ao meu lado pessoas cheias do Espírito Santo, tal como José (Gênesis 41.38) ou Barnabé (Atos 11.24). Soube há algum tempo atrás, de um músico cristão que era tão cheio da presença de Deus, que seus simples dedilhados levavam dezenas de pessoas a confessar Jesus como Senhor e Salvador aos prantos. Mas ele não fazia isso pela influência ou pelo poder da música, porquanto bastavam simples acordes para atrair a inconfundível presença de Deus.
Ao ouvir histórias similares eu dizia em meu coração: eu quero dirigir o louvor congregacional ao lado de pessoas assim; eu quero ver as pessoas serem abençoadas pela minha música; quero que o som produzido pela nossa equipe musical seja uma expressão da glória de Deus aqui na terra. Creio insistentemente que nenhum cristão deseja apresentar a Deus um serviço ingrato, regado com insubmissão, desrespeito, orgulho ou falta de compromisso. A presença do Espírito Santo é buscada por todos em qualquer serviço a Deus. Assim, músicos cristãos não desejam apresentar canções em que há ausência do Espírito Santo. Portanto, o meu desejo é o desejo de todos: ministrar ao lado de verdadeiros servos de Cristo!
Somos impacientes ou preguiçosos?
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. (Mateus 28.19,20. Grifo do autor).
Não há absolutamente nada de errado em sonhar com músicos iguais a Jesus. Não pecamos ao desejar ter em nosso grupo musical instrumentistas e cantores adoradores (mesmo que o nosso coração esteja um pouco ansioso para ver isso se tornar realidade). Muito pelo contrário, uma equipe verdadeiramente cheia do Espírito Santo só trará glórias a Deus. No entanto, a maioria de nós está falhando num ponto muito importante: nós não queremos enfrentar o difícil processo de fazer discípulos!
Infelizmente, pastores, músicos e líderes têm uma certa dificuldade para discipular e construir o caráter de um músico. A verdade inegável que queremos que Deus envie ao nosso grupo pessoas já “prontas”, ou seja, cristãos quase perfeitos! Muitas vezes, não estamos dispostos a tratar do caráter dos nossos companheiros de ministério, visto que pedimos que Deus arranque o “joio” da equipe musical e nos mande pessoas já tratadas e curadas. Quantas vezes oramos: “Senhor, tire fulano de tal do grupo de louvor e levante um verdadeiro adorador no lugar dele!”. Particularmente não acho que este tipo de oração expresse alguma sabedoria. Alguém que ora desta maneira provavelmente não quer passar pelo trabalho de fazer discípulos. Já pensou se Jesus orasse desta maneira?
A negligência do discipulado no ministério de música pode ser motivada por numerosas razões. Uma delas é a impaciência. O livro de Tiago nos alerta: “Sede vós também pacientes; fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis, irmãos, uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está à porta. (Tiago 5.8,9)”.
A impaciência pode atrapalhar tremendamente os planos de Deus para determinado grupo musical. Falo disso por experiência vivida, visto que já fui extremamente impaciente em muitas situações delicadas do meu ministério. Lembro-me que muitas vezes já chamei músicos despreparados para ministrar ao meu lado porque não podia suportar a ausência de um instrumento no culto. Quando um baterista ou guitarrista estava no banco sendo tratado por Deus, eu me sentia tentado a chamá-los para tocar comigo, mesmo que esta atitude viesse a prejudicar o fluir do louvor. Nestas situações, a minha impaciência não deixou que o caráter de alguns fosse tratado por Deus no seu devido tempo. Eu não era paciente o suficiente para esperar a hora certa, ou seja, para mim o processo de discipulado era demasiadamente longo. Leia Eclesiastes 3 para entender o valor de esperar o tempo certo.
É na armadilha da impaciência que vejo numerosos pastores, líderes e músicos caírem. Às vezes, negligenciamos o discipulado no ministério de música porque não suportamos a idéia de ter algum instrumento faltando no grupo. Quantos líderes estão esgotados porque se dedicam várias horas por dia para treinar novos instrumentistas e cantores a fim de que eles entrem no ministério rapidinho? Estes querem transformar músicos em verdadeiros adoradores como num passe de mágica, para não perder tempo discipulando. É assim que vemos pessoas despreparadas e imaturas subindo à plataforma para ministrar; é por isso que raramente se encontra um músico parecido com Jesus.
Na vontade ansiosa de formar belas “equipes de louvor” alguns cristãos têm causado sérios danos na vida de cantores e instrumentistas. Na ânsia de ter um ministério musical “completo” numerosos líderes têm esquecido de pôr em prática o que o Senhor Jesus ordenou: fazei discípulos. Atentemos para o que está escrito em Filipenses: “Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus (Fp 4.6,7)”. Amados irmãos, não deixemos que a ansiedade nos faça negligenciar o discipulado dos músicos. Vamos gastar tempo conversando francamente com os nossos companheiros de ministérios, assim como Jesus fazia com os discípulos dele. Como já falei anteriormente, não há nada de errado desejar construir um ministério abençoado, mas façamos tudo pacientemente, não atropelando os processos de Deus.
Outra razão para a negligência do discipulado é a preguiça. Deus não se agrada de cristãos preguiçosos, visto que por conta disso, sua obra pode ser abalada. Infelizmente, a preguiça de um crente pode preceder a escassez de trabalhadores em sua igreja. Do mesmo modo, um músico ou líder quando preguiçoso, terá ao seu lado músicos despreparados técnica e espiritualmente. Em certa ocasião Jesus disse aos seus discípulos: “E dizia-lhes: Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara (Lucas 10.2)”.
Muitos músicos preguiçosos já passaram pelo ministério musical de minha igreja. Eles não se dispuseram a discipular seus companheiros menos experientes, e acabaram por semear aquilo que plantaram, ou seja, plantaram escassez, colheram escassez. Alguns deles não agüentaram a pesada carga, pois devido à terrível preguiça nunca prepararam ninguém para substituí-los em determinados serviços. Ao invés de treinar, ensinar e passar conhecimento para as pessoas ao redor, preferiram ficar desfrutando da posição em que estavam.
As igrejas estão cheias de cristãos preguiçosos. Tais cristãos consideram muito trabalhoso ter que conversar com alguém, resolver problemas, orar, ter um tempo de comunhão com os irmãos, ensaiar, treinar um músico menos experiente etc. Tais pessoas não dão o devido valor ao discipulado, tal como Jesus ensinou. Depois reclamam que Deus não envia músicos para a sua comunidade. No livro de Jeremias observamos que Deus não gosta que sua obra seja feita de forma relaxada e negligente (leia Jeremias 48.10). Quando não nos dedicamos a discipular e fazer discípulos no ministério de música, estamos executando o serviço de forma negligente e estamos contrariando um dos mandamentos de Cristo.
Já há muito existe o preconceito. O músico é considerado por muitos um sujeito preguiçoso e desleixado por natureza. Em alguns lugares podemos ouvir as seguintes desculpas: “Fulano chegou atrasado? Não liguem, é que ele é músico!”. Para numerosas pessoas, o músico é aquele sujeito de caráter difícil, de cabelo estranho, que não gosta de trabalhar, que dorme demais e que nunca chega no horário estipulado. Você sabe porque as pessoas sustentam este conceito? Porque muitos músicos têm como principal hobby deixar mau testemunho perante a igreja! E a preguiça tem sido um dos problemas mais comentados. Por conta disso ouvimos frases como estas: “Fulano não veio ajudar a carregar as caixas de som porque ficou dormindo!”. Parece que estamos tão distantes do exemplo deixado por Cristo!
A ordem de Jesus é clara: ide, fazei discípulos! Com esta declaração ele quis dizer: Não fiquem parados! Vamos, mexam-se! Ide por toda a terra e fazei discípulos! Esta ordem implica numa ação, que, com certeza, daria muito trabalho a todos. Portanto, no chamado de Cristo não há lugar para preguiçosos. No ministério de música não há lugar para cantores ou instrumentistas preguiçosos. Todo aquele que não se dispuser a discipular e ser discipulado estará trilhando um perigoso caminho. Em Gálatas 6.7 está escrito: “Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. Se semearmos preguiça e desleixo, certamente não colheremos bons frutos.